Est. June 12th 2009 / Desde 12 de Junho de 2009

A daily stopover, where Time is written. A blog of Todo o Tempo do Mundo © / All a World on Time © universe. Apeadeiro onde o Tempo se escreve, diariamente. Um blog do universo Todo o Tempo do Mundo © All a World on Time ©)

sábado, 30 de novembro de 2013

Mais um espólio de imprensa especializada em instrumentos de escrita e relógios que nos chegou às mãos


Mais trabalhos de Inverno - segunda parte de um  espólio de um coleccionador de relógios e canetas, que nos veio parar às mãos. Se, na primeira vez, as publicações eram mais do mundo relojoeiro, desta vez são mais do mundo dos instrumentos de escrita. Obrigado, Miguel Macias Marques... Agora, é catalogar, digitalizar imagens, inserir dados no arquivo horológico...

Meditações - entre Novembro e Dezembro

No meu país não acontece nada
à terra vai-se pela estrada em frente
Novembro é quanta cor o céu consente
às casas com que o frio abre a praça

Dezembro vibra vidros brande as folhas
a brisa sopre e corre e varre o adro menos mal
que o mais zeloso varredor municipal
Mas que fazer de toda esta cor azul

que cobre os campos neste meu país do sul?
A gente é previdente tem saúde e assistência cala-se e mais nada
A boca é pra comer ou pra trazer fechada
o único caminho é direito ao sol

No meu país não acontece nada
o corpo curva ao peso de uma alma que não sente
Todos temos janela para o mar voltada
o fisco vela e a palavra era para toda a gente

E juntam-se na casa portuguesa
a saudade e o transístor sob o céu azul
A indústria prospera e fazem-se ao abrigo
da velha lei mental pastilhas de mentol

O português paga calado cada prestação
Para banhos de sol nem casa se precisa
E cai-nos sobre os ombros quer a arma quer a sisa
e o colégio do ódio é a patriótica organização

Morre-se a ocidente como o sol à tarde
Cai a sirene sob o sol a pino
Da inspecção do rosto o próprio olhar nos arde
Nesta orla costeira qual de nós foi um dia menino?

Há neste mundo seres para quem
a vida não contém contentamento
E a nação faz um apelo à mãe
atenta a gravidade do momento

O meu país é o que o mar não quer
é o pescador cuspido a praia à luz do dia
pois a areia cresceu e o povo em vão requer
curvado o que de fronte erguida já lhe pertencia

A minha terra é uma grande estrada
que põe a pedra entre o homem e a mulher
O homem vende a vida e verga sob a enxada
O meu país é o que o mar não quer

Ruy Belo in Todos os Poemas

sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Glashütte Original e Jaquet Droz partilham boutique em Genebra


As marcas Glashütte Original e Jaquet Droz, ambas pertencentes ao universo Swatch Group, acabam de inaugurar uma boutique conjunta na Rue du Rôhne, em Genebra. Trata-se do espaço de 60 metros quadrados que anteriormente constituia a antiga Tourbillon Boutique, também pertencente ao grupo.



Há 10 anos... publicidade Casio


Publicidade Casio, Suplemento Relógios, acompanha o nº 215 da revista Focus, de Novembro de 2003 (arquivo Fernando Correia de Oliveira)

A revista do dia - Watch Around Outono/Inverno 2013


Chegado(s) ao mercado - Diesel Timeframes


Diesel Timeframes. Cronógrafos de quartzo, com leitura analógica e digital. O ponteiro dos segundos é virtual, dá uma volta completa em 24 segundos e simula um radar. Caixa de 61 x 51 mm, de aço, estanque até 30 metros. PVP: 359 € (379 € a versão amarela)


Chegado(s) ao mercado - relógios Michael Kors Felicity


Michael Kors Felicity. Calibres de quartzo, caixas e braceletes de aço. PVP: 225 € (255 € as versões dourada e rosa)


Chegado(s) ao mercado - relógio Sector 450


Sector 450. Cronógrafo de quartzo, com coroa e botões à esquerda. caixa de 48 mm, de aço, com revestimento negro ou rosa, estanque até 100 metros. PVP: 279 €

Meditações - os danos do tempo

Com meus noventa e dois anos
tenho às vezes a impressão
de que o tempo, em sua acção,
me quis poupar aos seus danos!

João de Castro Nunes

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Chegado ao mercado - Hermès Heure-H Framboesa


Hermès Heure-H Framboesa. Versão com 72 diamantes na luneta e onze no mosrador do modelo criado por Philippe Mouquet em 1996, o Heure-H da Hermès surge com uma pulseira intercambiável cor de framboesa, de pele de crocodilo. Calibre de quartzo. PVP. 10 350 €

Imagens "explosivas" de Fabian Oefner, em exposição na MB&F M.A.D Gallery, em Genebra


Imagens "explosivas" de Fabian Oefner, em posição na MB&F M.A.D Gallery, em Genebra. O suíço Oefner ficou célebre pelo seu estilo de fusão entre arte e ciência, criando imagens que evocam ao sentimento e à razão...

O jovem criador anda sempre à procura de captar momentos efémeros od dia-a-dia que escapam ao olho humano - fenómenos como ondas sonoras, forças centrípetas, iridiscência, fogo e mesmo fluídos ferrosos magnéticos.

A série de imagens em exposição representa carros desportivos vintage que se desintegram. Fabian Oefner trabalhou modelos à escala, desmontando-os, fotografando cada uma das peças numa posição específica, para no final conseguir criar uma ilusão de explosão.

O artista pretende que o efeito seja semelhante a uma imagem criada por computador, quando na verdade se está perante uma verdadeira fotografia.

Diz Fabian: “I have always been fascinated by the clean, crisp looks of 3D renderings. So I tried to use that certain type of aesthetic and combine it with the strength of real photography. These images are also about capturing time: either in stopping it as in the Hatch series or inventing it as in the Disintegrating series.”

Os trabalhos de Fabian Oefner estarão patente na M.A.D. Gallery em Genebra até Maio de 2014.

“What you see in these images, is a moment that never existed in real life,” diz Oefner. “What looks like a car falling apart is in fact a moment in time that has been created artificially by blending hundreds of individual images together. There is a unique pleasure about artificially building a moment… Freezing a moment in time is stupefying.” 

As imagens de carros a explodir incluem um Mercedes-Benz 300 SLR Uhlenhaut Coupé com portas "asa de gaivota" (1954); um Jaguar E-Type (1961); e um Ferrari 330 P4 (1967).

Os trabalhos de Fabian Oefner estarão patente na M.A.D. Gallery em Genebra até Maio de 2014.






O making off:

Fabian first sketched on paper where the individual pieces would go, before taking apart the model cars piece by piece, from the body shell right down to the minuscule screws. Each car contained over a thousand components. Then, according to his initial sketch, he placed each piece individually with the aid of fine needles and pieces of string. After meticulously working out the angle of each shot and establishing the right lighting, he photographed the component, and took thousands of photographs to create each Disintegrating image. All these individual photos were then blended together in post-production to create one single image. With the wheels acting as a reference point, each part was masked in Photoshop, cut and then pasted into the final image.

“These are possibly the ‘slowest high-speed’ images ever captured,” says Fabian. “It took almost two months to create an image that looks as if it was captured in a fraction of a second. The whole disassembly in itself took more than a day for each car due to the complexity of the models. But that’s a bit of a boy thing. There’s an enjoyment in the analysis, discovering something by taking it apart, like peeling an onion.” However, he adds: “The hardest part was actually setting up the camera, lens and light, because the biggest frustration is when you can't get any beautiful image out of it!”

Hatch in detail

With Hatch, Fabian Oefner presents his interpretation of how cars might be ‘born’. The first two images show a Ferrari 250 GTO (1962) – again a detailed scale model – breaking out of its shell. The third image shows one of the empty shells left behind among several others yet to hatch. Fabian started by making a latex mould from the model car, which was then filled with a thin layer of gypsum to create the shell. Several dozens of these shells were made in order to complete the next step: smashing the shell onto the car to create the illusion of the vehicle breaking out. This step had to be repeated a great many times until the desired results were achieved.

To capture the very moment where the shell hit the model, Fabian connected a microphone to his camera, a Hasselblad H4D, and flashes, so that every time the shell hit the surface of the car, the impulse was picked up by the microphone which then triggered the flashes and the camera shutter. Representing a car as a living, breathing organism that has been gestated is a neat twist on car conception; it could be said Hatch is to the automotive world what a stork is to delivering babies.

Profile of Fabian Oefner

Fabian Oefner was born in Switzerland in 1984. Coming from a family with an artistic background, he attended art school and gained a degree in product design. At the age of 14, Fabian discovered Harold Edgerton’s photo of a bullet piercing an apple, and this prompted him to get his first camera. “I have always experimented with all different kinds of art forms at a very early stage,” he says. “Photography turned out to be the form of art that I was most interested in.” But not just any old photography... Fabian has gone on to blend art with science: beautifully photographing ‘nebulae’ formed in a fibre glass lamp and feathery or cotton candy-like puffs made by bursting balloons filled with corn starch. He has shot crystals of colour rising in reaction to a speaker's soundwaves; spectacularly captured the patterns created by magnetic ferrofluids pushing paint into canals and he has taken colour-crazy photos of paint modelled by centripetal forces.

“I am trying to show these phenomena in an unseen and poetic way,” he pauses, “and therefore make the viewer pause for a moment and appreciate the magic that constantly surrounds us.” “I am inspired and influenced by the world that is around me. I have a deep interest in all kinds of fields of science. When I start with a new subject I rarely know how the final images will look. After experimenting with it, I start to get a feeling for it and after a while an idea for images develops.”

Fabian has a photographic studio in Aarau, 40 minutes away from Zurich in Switzerland. His work has only been sold through direct private sales around the globe. He has worked on assignments for big international brands, on ad campaigns and art projects, including a number of free projects, available to view on his 500px.com page. Fabian recently demonstrated his ideas and artwork during a TED Talk, as part of the non-profit’s initiative devoted to ideas worth spreading. His reputation has been growing steadily for the past two years.










JeanRichard na prova Patrouille des Glaciers


A JeanRichard será parceiro da equipa suíça de esqui alpino na lendária competição (PDG), na Primavera de 2014. A PDG é a mais longa corrida de esqui alpino do mundo e ocorre de dois em dois anos - partindo de Zermat, passa por Arolla e termina em Verbier, na Suíça.

Esta corrida de esqui de montanha tem as suas origens nos anos 1940. Actualmente, a PDG atrai cerca de 4.500 participantes, vindos de todo o mundo, numa prova por equipas (três elementos de cada, ganhando a que tiver o menor tempo somado para fazer o percurso).


Para comemorar a parceria, a JeanRichard edita um Terrascope especial. Caixa de 44 mm, de aço, estanque até 100 metros. Calibre automático (JR60). Mostrador gravado. Limitado a 100 exemplares.

Pré-SIHH - relógio Baume & Mercier Clifton Cronógrafo 43 mm


Baume & Mercier Clifton Cronógrafo 43 mm. Cronógrafo automático com estética e acabamentos inspirados em relógios fabricados pela C. H. Meylan Watch, do Brassus, no Vallée de Joux, manufactura especializada em instrumentos de medição de tempos curtos, adquirida pela Baume & Mercier em 1952.

Caixa de 43 mm, de aço, calibre Valjoux ETA 7750. Vidro de safira na frente e no verso. Indicação de dia e data. Disponível em três versões.





IWC Big Pilot Perpetual Calendar Edição “Le Petit Prince”, de platina, rende 140 mil euros para escola no Camboja


O exemplar único IWC Big Pilot Perpetual Calendar Edição “Le Petit Prince”, de platina, foi recentemente leiloado nos escritórios de Genebra da Sotheby e foi arrematado por cerca de 140 mil euros.

Em conjunto com a Antoine de Saint-Exupéry Youth Foundation, a IWC vai utilizar este valor para apoiar a construção de uma escola, com biblioteca, no Camboja, contribuindo assim para lutar contra o analfabetismo. 

Setenta anos após a publicação do “Le Petit Prince” o trabalho de maior sucesso de Antoine de Saint-Exupéry, o relógio foi leiloado em conjunto com uma reedição da primeira versão em inglês do Principezinho e uma reprodução do manuscrito original em francês.


Chegado ao mercado - Graham Silverstone RS Skeleton


Graham Silverstone RS Skeleton. Edição limitada de 250 exemplares. Caixa de 46 mm, de aço. Cronógrafo automático, com calibre esqueletizado e rodiado. Janela lateral, às 10 horas, vendo-se o escape e a roda de balanço. Coroa com fecho tipo baioneta. Vidro de safira na frente e no verso.


Meditações - viver a plenitude do instante

O TEMPO CORRE NAS HORAS (Completo?) 

O tempo
Corre nas horas
Paradas
Do meu presente.

Não posso fugir de mim.
Só quando a morte
Se ausente.

Então, já fui.
Não existo.

Porém…
Pertencerei
Ao passado
Que pode ainda ser
Presente
Se alguém me quiser
Lembrado.

Não é a memória
Que é morte:
Faz do passado diferente.
Melhor que regressar a ele
É trazê-lo
Resple(a)nd(ec)ente.

E a eternidade
Onde está?

Ah!
Neste presente
Incessante
Tocá-la, será viver
Em plenitude*
O instante

(* Viver a plenitude do instante pode ser “essa faculdade de reconhecer o todo divino na mais ínfima parcela do universo” N. Berdiaev, O Mal do Tempo.)

António Lourenço Marques Gonçalves

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

História do Tempo em Portugal - Elementos para uma História do Tempo, da Relojoaria e das Mentalidades em Portugal - dez anos depois, o caminho mal começou


Há precisamente dez anos, na noite de 27 de Novembro de 2003, a Casa Museu Medeiros e Almeida, em Lisboa, era o cenário para o lançamento de História do Tempo em Portugal - Elementos para uma História do Tempo, da Relojoaria e das Mentalidades em Portugal.

Com Nota do então Presidente da República, Dr. Jorge Sampaio, e Prefácio do Comandante Estácio dos Reis, História do Tempo em Portugal era uma edição da Diamantouro, com o apoio da manufactura suíça de alta relojoaria Girard-Perregaux. Parte das receitas da venda do livro reverteram para a Escola de Relojoaria da Casa Pia de Lisboa.

Fruto de uma década de investigação, História do Tempo em Portugal foi depois o ponto de partida para, ao longo da década seguinte, prosseguir o estudo e a publicação relacionados com a temática pluridisciplinar do Tempo, num espaço geográfico e humano que é Portugal.

Uma década passada, o caminho mal começou...


Na mesa, Comandante Estácio dos Reis; Dra. Catalina Pestana, Provedora da Casa Pia; Goreti Santos, Administradora da Diamantouro; o representante da Girard-Perregaux, em nome do seu Presidente, Luigi Maccaluso; Dra. Teresa Vilaça, Directora da Casa Museu Medeiros e Almeida.




Com a Dra. Catalina Pestana, Provedora da Casa Pia

A intervenção que fizemos na altura:

Porquê o Tempo, a Relojoaria e a evolução das Mentalidades? Não sei muito bem como responder. Nascido e ciado numa zona histórica de Lisboa, o Chiado, habituei-me desde miudo a ouvir os sinos das igrejas das redondezas, que são muitas. Desde logo, a dos Mártires, uma das primeiras, se não a primeira, a ser construída depois da conquista da cidade aos Mouros por D. Afonso Henriques. Eram marcações de tempo canónicas, feitas por sacristãos, que se faziam ouvir ainda claramente no início da segunda metade do século XX, porque a Lisboa dos engarrafamentos de trânsito ainda não tinha chegado e o Chiado, embora já despovoado de habitantes, continuava a ser o sítio de compras mais exclusivo, fervilhando de vida todos os dias. Mas a infância também foi povoada por relógios mecânicos públicos, como o do Teatro de São Carlos ou o da Mundial. Mais tarde, o café de bairro foi A Brasileira, onde de novo um relógio, de parede, marcou o início de muitas noitadas…

Como quase todos os outros da minha geração, o primeiro relógio que tive, na década de 60, foi-me dado pelos pais, quando fiz a 4ª classe: um Cauny Prima 17 Rubis, de contrabando.

Com o equivalente aos meus primeiros três ordenados adquiri depois, já na década de 70, na Ourivesaria Portugal, ao Rossio, um Omega Speedmaster Mack IV. A paixão relojoeira tinha-se enraizado.

O mercado português estava nessa altura praticamente fechado à Alta Relojoaria, dadas as barreiras alfandegárias e o fraco poder de compra. Viajando de carro pela Europa, fazendo férias de Inverno, no regresso parava sempre dois ou três dias em Andorra. E aí tomava contacto, maravilhado, com peças que não havia em Portugal.

A viver em Beijing durante alguns anos, no final da década de 80, tive oportunidade de reforçar a minha pequena colecção de relógios mecânicos, com o que foi aparecendo vindo do mercado interno ou proveniente de uma União Soviética em desagregação.

De regresso a Portugal, procurei arranjo para algumas dessas peças. Disseram-me os relojoeiros consultados que várias não tinham arranjo. Mesmo assim, contactei a única escola de Relojoaria do país, na Casa Pia de Lisboa. E fui ajudado, desde logo, com conselhos e formação pelo Mestre Américo Henriques, que em 2003 fez 40 anos à frente daquele centro de criação de gerações e gerações de relojoeiros.

Um pouco por “desporto”, comecei a escrever esporadicamente no PÚBLICO artigos sobre relojoaria. Passei a ir às feiras de Basileia e Genebra, os grandes encontros anuais do sector, a nível mundial. Criei um suplemento annual, Cronos – Pilares do Tempo, que vai agora na sua quarta edição. E, de repente, pelas circunstâncias da vida, dediquei os últimos dois anos quase exclusivamente a fazer um levantamento, ainda que limitado, sobre o Tempo, a Relojoaria e a evolução das Mentalidades a eles ligada em Portugal. Algum desse material saiu em A Máquina do Tempo, secção da revista dominical do PÚBLICO, a Pública.

Percorrido o país, contactadas instituições e particulares, recebidas sugestões de muita gente, resta agradecer, dizendo que as eventuais virtudes deste trabalho lhes são devidas e que os erros e omissões, decerto bastantes, me cabem a mim.

Pormenorizando, gostaria porém de agradecer ao sr. Presidente da República, dr. Jorge Sampaio, que acedeu a escrever uma nota muito simpática e que está incluída na obra. Fiquei a saber que o dr. Jorge Sampaio, conhecido amante de relógios, é também um leitor atento do que vou escrevendo aos domingos. Responsabilidade acrescida…

Queria igualmente agradecer à dr.a Teresa Vilaça, directora da Casa-Museu Medeiros e Almeida, que generosamente nos abriu as portas da sua instituição para a apresentação deste livro. Que melhor sítio poderíamos encontrar? Desde já faço a sugestão, a quem ainda não conhece, que percorra com mais tempo, um dia destes, esta casa, onde se encontra a mais valiosa colecção privada de relógios do país, e não só… Gostaria de agradecer à Paula Santos, ao Mário Lopes e ao António Peres, da Weber & Snhandwick – Documentos e Eventos, que me aturaram nestes últimos três meses na produção da História do Tempo em Portugal.

À Filipa, à Adriana e ao Filipe, também o meu obrigado, por me aturarem há bastante mais do que três meses e me terem ajudado sempre em tudo. O meu bem-haja ainda a Paulino e José Mota Tavares, que acompanharam muitas vezes as minhas investigações, sugerindo abordagens e dando-me fontes. Ao Mestre Américo Henriques, que se dispôs a rever a matéria referente à Casa Pia e que sempre esteve disponível para, com os seus conhecimentos técnicos insuperáveis, me ir esclarecendo dúvidas.

A João Eduardo Simões Nobre, um grande Amigo, que se predispôs a ser “cobaia”, lendo e revendo toda a obra, com olhos interessados mas exteriores ao tema.

Ao Comandante Estácio dos Reis, afinal o Grande Companheiro desta viagem, não só pela extensa obra publicada sobre a temática do Tempo na Marinharia, incontornável para quem queira estudar estas coisas, mas também pelas numerosas pistas e sugestões que deu. O seu Prefácio muito nos honra.

A Sylvie Rumo, da Girard-Perregaux, que desde logo se entusiasmou com a ideia de ajudar à publicação da obra e ao seu Presidente, Luigi Macaluso, também presidente da Association Interprofessionnelle de la Haute Horlogerie (AIHH), que validou o apoio.

Mas, sem a decisão, a vontade e o esforço de Goreti Santos, Administradora da empresa Diamantouro, que patrocina a edição, e que importa para Portugal a marca de Alta Relojoaria Girard-Perregaux, nada disto teria sido possível. Em tempos nada fáceis para iniciativas deste género, o meu Obrigado final e muito sentido vai para ela.

Realço ainda o alcance solidário desta iniciativa, já que o lucro das vendas do livro reverterá totalmente para a Escola de Relojoaria da Casa Pia de Lisboa.

O que é o tempo?

Há o tempo ditado pela natureza e o tempo ditado pelo poder religioso ou político (os ciclos naturais de dia e noite, estações do ano, fases de lua, etc., padronizados pelos poderes religiosos pré-históricos através de locais e classes especiais apropriadoras do tempo – sacerdotes, astrólogos, círculos-calendários de pedra, zigurates, obeliscos, etc.)

Na Europa, há o tempo ditado em todo o período medieval, emanado da autoridade espiritual suprema – o papa. A sociedade sem Estados, pulverizada em pequenos territórios senhoriais, em redor do castelo e do mosteiro, vivia quase sem trocas comerciais com outras comunidades, as actividades agrícolas de subsistência giravam em volta do tempo canónico, a que o castelo obedecia.

Com o advento do novo surto de trocas comerciais entre regiões, com a ascensão das classes dos comerciantes e dos mesteirais, com o reforço dos poderes políticos dos Estados em relação à Igreja, o tempo do mosteiro “transfere-se” para a torre do castelo e, mais tarde, para a torre do burgo. Os relógios são comprados, primeiro a meias entre bispo, homens-bons e rei ou senhor local, cada vez mais por encomenda dos homens-bons ou burgueses.

Lentamente, o tempo canónico vai dando lugar ao tempo laico. Primeiras tentativas de padronização do tempo surgem nesta altura. Aparece o ponteiro dos minutos, traduzindo a mentalidade cada vez mais predominante de encarar o tempo como mercadorias – logo, bem precioso, escasso.

Com a Revolução Industrial, lentamente, do tempo canónico passa-se completamente ao tempo laico. Estes dois, públicos, vão dando lugar ao tempo privado. Primeiro, um tempo que se transporta apenas pelos senhores e pelos burgueses ricos, aqueles que viajam. Depois, um tempo que se vai proletariado, nas fábricas, primeiro, com os tempos de produção (Ford foi relojoeiro…), o acordo sobre horários de trabalho e seus limites, etc. Há um tempo tipicamente burguês, privado – é de estatuto ter um bom relógio de sala, que ainda se acerta com as horas dadas pelo relógio do burgo, que por sua vez ainda é acertado pelo relógio de sol…

A partir da I Guerra Mundial, e vindo dos Estados Unidos, com os soldados, surge o tempo privado e proletário puro – cada homem tem o seu relógio, de pulso, porque a produção em série embarateceu um objecto que até aí tinha sido clarista, mágico, de estatuto. O tempo público, esse, estandardiza-se de vez, mercê das necessidades surgidas com os transportes públicos – nomeadamente o comboio. É a época das grandes conferências internacionais sobre a hora, dos fusos horários, das convenções ainda hoje aceites. Surge a necessidade de “mudança da hora”, no Verão e no Inverno, para aproveitar melhor a luz solar, adaptando-a aos ciclos de produção.

O tempo, agora laico, individual, e ao mesmo tempo universal, globaliza-se ainda mais com o aparecimento de redes de comunicações físicas, primeiro, virtuais, depois (World Wide Web), que ligam em tempo real sistemas informáticos de todo o mundo. Os mercados financeiros já não fecham, funcionam 24 sobre 24 horas, aceitam-se ordens de compra e venda de títulos a partir de todo o lado, a qualquer momento. Os fluxos financeiros passar a ser virtuais, o tempo tem que ser marcado (e homologado por uma identidade idónea) ao segundo. Os bancos centrais e outros operadores económicos e financeiros globais passam a dispor de autoridade sobre o tempo (carimbam a hora exacta a que se deu uma transacção). Cada vez o homem tem mais tempo ao seu dispor, cada vez tem menos tempo.

Do bastão do pastor, que media a sobra no chão, para o ceptro do sacerdote, que lê o calendário nas estrelas. Da liturgia emanada do papa, para os sinos dos mosteiros. Dos Livros de Horas, para as torres sineiras do burgo. Das torres para as carruagens, primeiro, para os bolsos, depois. Dos bolsos para os pulsos. Do tempo local ao tempo do Estado. Do tempo do Estado para o tempo Continental. Deste para o tempo Universal. Da ordem financeira dada por pombo correio, para o carregar do botão do computador – o tempo “on line”. Sempre. Em todo o lado (no pulso, no telemóvel, no écran do computador, na rádio, na televisão, no carro…)

História do Tempo em Portugal – Elementos para uma História do Tempo, da Relojoaria e das Mentalidades em Portugal aborda vários aspectos relacionados com o Tempo cronológico, desde os relógios biológicos que cada um de nós tem, obedecendo a ritmos circadianos ou circanuais, até aos primeiros relógios construídos no território a que hoje chamamos Portugal, os alinhamentos megalíticos de há cinco mil anos.

Os relógios de sol, que vieram com a ocupação romana, e a relojoaria grossa, férrea ou de torre, que veio com os relojoeiros religiosos e laicos franceses e que se estabilizou com a aliança matrimonial da dinastia de Aviz com a Casa inglesa de Lencastre, são igualmente temas abordados. A introdução dos relógios portáteis, de sol e mecânicos, por parte da família Behaim, que comerciava em Lisboa mas era originária da Floresta Negra, é um dos factos novos contidos no livro.

A introdução dos relógios mecânicos nas cortes chinesa e japonesa, por intermédio do Padroado Português do Oriente, nos séculos XVI e XVII, e a sua importância para a fixação dos ocidentais nessas paragens são aspectos realçados.

Aborda-se o mundo dos almanaques e dos calendários, durante os últimos cinco séculos em Portugal, bem como o tempo popular português, com as suas expressões dedicadas ao tema.

O tempo glorioso de D. João V, em que a corte portuguesa comprava os melhores relógios do mundo, seguido do desastre do terramoto de 1755, que destruiu grande parte do património relojoeiro monumental, são referidos. O período do Marquês de Pombal, em que se assistiu à laicização do tempo nacional, por um lado, e à fundação da primeira fábrica de relógios portuguesa, por outro, é realçado.

Uma outra novidade do livro: fixa-se por volta de 1755 a altura em que a noção de segundo aparece pela primeira vez em Portugal: quando jesuítas fabricam relógios de precisão, para observarem um eclipse da Lua.

Um “estrangeirado”, João Jacinto de Magalhães, é uma das figuras mais importantes da comunidade científica europeia do século XVIII. Fabrica relógios e outros instrumentos científicos.

Veríssimo Alves Pereira e Augusto Justiniano de Araújo, amigos, dominam o século XIX português em termos de relojoaria. O primeiro, inventor e promotor de relógios mecânicos de hora universal e de relógios de sol que assinalavam sonoramente o meio-dia (meridianos), regulou o tempo público do Porto e de Lisboa, a partir da Torre dos Clérigos, do Castelo de São Jorge, ou da Escola Politécnica. O segundo, que também inventou relógios de hora universal, foi o fundador da Escola de Relojoaria da Casa Pia.

Algumas colecções privadas (Carvalho Monteiro, Medeiros e Almeida), ou públicas (família real, no Palácio da Ajuda) são referidas. Os casos de A Boa Reguladora e de A Boa Construtora, exemplos de relojoaria de fabrico nacional, bem como os de Dimas de Melo Pimenta (introdutor da relojoaria moderna no Brasil) ou de Germano Silva (construtor de relógios monumentais nos Estados Unidos) são igualmente tratados. O estado de abandono generalizado a que estão votados os relógios de torre em Portugal é realçado ao longo da obra, defendendo-se um levantamento urgente dos exemplares e a sua recuperação.

Um último pormenor, sobre a capa do livro: na foto, o relógio do Arco da Rua Augusta. Apesar de parado, como a maioria dos relógios públicos deste país, está certo pelo menos duas vezes por dia….

Desde que a obra póstuma de Sousa Viterbo sobre o tema da Relojoaria foi publicada, há cerca de um século, quase mais nada se escreveu sobre uma questão cada vez mais multidisciplinar, que tem merecido a atenção crescente em todos os países do Ocidente.

Praticamente um século depois, eis aqui apenas um ponto de partida para quem se queira interessar sobre ela. Que não demore mais um século a escrever-se sobre o Tempo, a Relojoaria e as Mentalidades em Portugal.